Faz uns dias acordei de uma noite de torpor induzido pelo álcool, só para me deparar com um frigorífico vazio. Assim que acabei de espancar a minha mulher-a-dias (obviamente culpada desta situação) arrependi-me imediatamente do que acabara de fazer. Não porque tivesse pena daquela vacória assalariada, mas porque se a mandasse ao hipermercado com as pernas partidas ela ia demorar a tarde toda.
A fome apertava, e eu decidi tomar as rédeas da coisa. Peguei na viatura e dirigi-me à grande superfície comercial mais próxima.
Sendo eu um grande animal, era para mim novidade ir ao hipermercado. Quando tenho fome, eu simplesmente espeto um crenco no animal de quatro patas mais próximo e dou-lhe umas dentadas no lombo até me sentir satisfeito. O problema é que nesse dia os únicos animais num raio de 2 quilómetros eram pessoas, e eu ouvi dizer que arrancar nacos dos costados da malta sabe mal e dá prisão.
Assim que cheguei apercebi-me logo de uma coisa que me incomodou: Os hipermercados têm gente. Muita gente.
Inferno, odeio gente.
Estive prestes a vir-me embora, mas o reactor nuclear a que chamo de estômago decidiu entrar em estado crítico, e não tive qualquer opção senão entrar. É preciso ver que os meus orgãos vitais, tal como o dono, são indivíduos extremamente perigosos quando irritados. Uma vez, contra todas as indicações do meu corpo, recusei-me a parar de malhar whiskys e o meu fígado veio cá fora, espancou-me a mim, ao barman e a toda a gente no bar que olhou para ele de maneira estranha.
Não demorei nem 30 segundos para perceber que tinha de me despachar ou então inevitavelmente iria perder as estribeiras e ver-me envolvido numa sessão de porrada, seguida de uma estadia na choldra. O principal motivador deste meu estado de espírito volátil eram os carrinhos de compras. Passo a explicar:
Quando uma família vai ao hipermercado, por alguma razão obscura que só as suas cabecinhas deficientes compreendem, a condução do carrinho de compras é sempre atribuída ao membro menos habilitado para tal. Vê-se de tudo: desde a velha com ciática forçada a empurrar o carrinho a 0,00001 km/h, enquanto o badocha preguiçoso do filho anda a olhar para os rabos das gajas, até ao puto em ácidos que acha que o carro de compras é um fórmula 1, enquanto a família observa impassível.
Se por cada tronchada que levei no meu carrinho tivesse respondido com uma facada no olho, teríamos observado um pico nas adesões da ACAPO. Ou da APAF, como preferirem.
Nos fugazes momentos em que não estava ocupado a desviar-me dos trogloditas que brotam dos corredores dos consumíveis, tentei empenhar-me no meu objectivo inicial de obter comida. Quem acha que esta é a parte mais fácil da ida ao hipermercado, engana-se.
Imaginem por exemplo, o processo de comprar iogurtes. Se vos apetecer comprar um simples iogurte de morango, boa sorte. Hoje em dia tudo o que é marca de iogurtes acha que as pessoas são demasiado burras para que lhes seja dado o poder de escolherem que sabores desejam, e misturarem-nos como lhes convier. Em vez disso fazem-nos o favor de criar misturas do arco-da-velha, que os falhados dos departamento de marketing acham que darão boas vendas. Somos confrontados com iogurtes de banana+pêra+bolacha, framboesa+melão+limão, maçã+chouriço+escalopes de vitela, mas uma porra de um iogurte de morango, ou de banana, ou de ananás ou de um único sabor qualquer é praticamente impossível de encontrar.
Tenho aqui um iogurte ideal para os estrategas de produto das marcas de iogurtes:
Se estás a ler isto e achas que já acabei de bater neste tópico, és um tolã. Eu ainda mal comecei.