Mais uma vez a minha curiosidade mórbida levou a melhor sobre mim. A convite de uns indivíduos, que enquanto escrevo isto estão a ser enterrados no quintal pelo meu fiel escravo Bóris o corcunda, fui a uma galeria de arte.
Assim que entrei, fiquei fascinado.
É fascinante a quantidade de trampa que se consegue pendurar numa única divisão sem se ser acusado de vandalismo. Ainda verifiquei se não me tinha enganado na porta, e acabado em algum armazém palco de batalhas de paintball. Ficou rapidamente claro que não, que me encontrava na tal galeria de arte, e que tal como o nome indicava, aqueles equivalentes gráficos a uma encefalite aguda eram exemplos dessa tal "arte".
Estaquei perante um espécime, que consistia numa tela de 2x2 metros com fundo preto e dois borrões vermelhos, cujo nome era "Revolta". O imbecil do autor acertou na mouche. Foi esse exacto sentimento que me passou pelo crânio quando vi aquela deficiência emoldurada. Já não via um tamanho desperdício de 4 metros quadrados desde aquela vez em que deram uma cadeira no parlamento ao Partido da Solidariedade Nacional.
Enquanto tais pensamentos eram trocados entre os meus dois hemiférios cerebrais (andava há 3 meses a tentar arranjar uma desculpa para escrever aqui a palavra "hemisférios", porque é fixe e faz-me parecer intelectual. Quem não concorda que se mate), a minha boca já fazia das suas e recordo-me de dizer algo do género "eu pintava isto com a boca durante um ataque epilético".
Ao meu lado encontrava-se um senhor com ar de quem come paus de vassoura com o rabo ao pequeno almoço, que achou que estava na altura de terminar a sua existência terrena, e comentou "Não faço ideia porque deixam entrar estes bacocos sem sensibilidade artística, nestas exposições".
Este deficiente achou que me insultava ao me acusar de tal coisa. Sim, eu tenho a sensibilidade artística de uma betoneira, e tenho tanto orgulho nisso, como tenho de conseguir abrir minis à dentada. A sensibilidade artística não me ajuda a atingir nenhum dos três objectivos que tenho na vida: comer, dormir e pinar. Não preciso dela para fazer uma sandes, para roncar como se não houvesse amanhã ou para levar gajas a visitar o cafufo.
Alguns retrocessos que visitam esta trampa de blog diriam que há gajas que se sentem atraídas por homens com sensibilidade artística, e que é por essa mesma razão que Andy Warhol apesar de ter cara de virgem de 40 anos era gajo para desbravar 15 clitóris por semana. Pois é, mas vocês esquecem-se que o Andy era cheio de pastel, distribuía drogas como se fossem gomas dos ursinhos e viveu nos EUA dos anos 60, onde as pessoas pinavam mais do que comiam. Mesmo admitindo que certas gajas se sentem atraídas pela sensibilidade artística de um tipo, essas são as mesmas tipas que no dia seguinte se recusam a ir tomar o pequeno almoço a casa delas, porque querem discutir o último filme de David Lynch, esse cóina, ou exprimir-se artísticamente com as próprias fezes. Não, obrigado.
Voltando ao intelectualóide ranhoso da galeria de arte: Não obstante o seu comentário ser para mim um elogio, achei por bem entrar no espírito da galeria, e remodelar a cara do senhor segundo a corrente abstracta do início do século XX. Aqueles quadros do Picasso à primeira vista parecem fáceis de fazer, mas vi-me da cor do caraças para lhe pôr o nariz no queixo e uma orelha na testa.
Enquanto desfigurava irreversivelmente aquele pila arrogante, dei por mim a pensar que no fundo eu também sou um artista. Se este desperdício de pessoa que é o Stelios Arcadious é um artista, porque implantou uma orelha no braço esquerdo (ver foto abaixo), então eu sou um mestre da escultura corporal. Eu sou pessoalmente responsável por pedaços importantes de pessoas terem acabado nos sítios mais inesperados dos seus corpos. Mereço um subsídio do Ministério da Cultura.

Todos nós esperamos que a operação de implante seja acompanhada de uma vasectomia.